30 dezembro, 2022

Reinado Sombrio [Cap. 1]

Meses haviam se passado desde o nascimento de Nafsi, Kidogo, Nuka e Mheetu. Os filhotes, apesar das diferenças, quase sempre brincavam juntos, mesmo que suas mães se desprezassem. Nuka, ainda que doente, era um filhote doce e gentil, ao contrário de Zira, e quase sempre ficava com Sarabi. Mheetu, por outro lado, era geralmente proibido de sair de perto da mãe, a não ser que fosse para brincar com Nala. Sarafina detestava Heneia e sua prole desde que Heneia virou rainha, mas nada impedia o pequeno Mheetu de brincar com as filhotes.

Era mais uma manhã sombria nas Terras do Reino. Nafsi estava deitada em uma pedra, sob a sombra de uma árvore, vendo sua irmã brincar com os outros filhotes ao longe quando ouviu passos se aproximando atrás de si. Ela virou a cabeça levemente e viu Nala se aproximando com Tama. A filhote marrom-alaranjada apoiou a cabeça nas patas dianteiras e fechou os olhos, não queria ouvir nenhuma piadinha hoje.

— Mamãe diz que Scar só deixou a mãe dela ficar porque queria mais uma leoa para gerar filhotes. — Diz Nala, revirando os olhos. — E que o pai dela não passava de um forasteiro que usou a mãe dela.

— Que horror. — Responde Tama, rindo em seguida. — Não é a toa que ela é daquele jeito, toda estranha.

As orelhas de Nafsi se inclinam para trás. Sabia que as leoas falavam sobre sua família e conversavam perto dela de propósito.

— Sim. — Nala solta uma risada debochada. — E para completar, a mãe dela é a favorita de Scar, pode fazer o que quiser.

— Aposto que o pai da Nafsi as deixou justamente pela mãe dela ser oferecida. — Tama revira os olhos. — Já viu o jeito que ela se esfrega no Scar?

— Vi, sim. Oferecida, com certeza. — Nala revira os olhos, mostrando uma cara de nojo. — Nafsi será do mesmo jeito que a mãe.

— Parem de falar como se eu não estivesse aqui. — Rosnou a mais nova. — Se querem falar algo, falem na minha cara. Além disso, minha mãe não é oferecida. — Defendeu, se levantando, descendo da pedra e caminhando na direção das duas filhotes maiores. — Não devia falar da minha mãe quando é sua que se esfrega no Scar, Nala.

— Ora, sua... — Antes que a filhote de pelo claro pudesse terminar, Nafsi a interrompe.

— Eu ainda não terminei! — Exclamou a pequena. — Meu pai não deixou minha mãe por ela ser oferecida. Meu pai deixou minha mãe por ser um covarde! — Mostrou as garras e deu um passo mais perto de Nala. — Um covarde que só a usou e a largou para escanteio quando ela engravidou. Scar deixou minha mãe no reino por ela ser boa em caça e por ela estar grávida! — A cada passo que dava, Nafsi aumentava o tom de voz. — Você deveria se sentir privilegiada, Nala. Conheceu seu pai quando era menor, minha irmã e eu não tivemos esse desprazer, graças aos Reis!

— N-Nafsi, se acalme. — Murmura Tama, colocando a pata no ombro da mais nova. — Não falamos por... — Nafsi a corta, se virando rapidamente na direção de Tama.

— Me acalmar? Me acalmar?! — Gritou, avançando na direção de Tama. — Não ouse dizer “se acalme” para mim, Tama! Desde que nasci, você e os outros me tratam mal! Sempre que tento me aproximar de vocês, vocês correm enquanto dão risada! Sempre que tento falar com vocês, vocês acabam me machucando! — Para enfatizar, Nafsi mostrou a cicatriz em seu ombro direito. Ganhou a cicatriz de Chumvi quando tentou se aproximar para brincar com ele e os outros filhotes. Ele e Nala a cercaram e começaram a arranhá-la, foi uma das únicas cicatrizes que não se curou completamente. Tama estava encurralada contra a pedra que Nafsi estava deitada antes. A filhote tremia, nunca tinha visto Nafsi com tanta raiva, tanto ódio. Para Tama, Nafsi parecia maior agora que ela estava com raiva, quase como Scar. — A pior parte de tudo é que vocês falam mal de mim e da minha família perto da minha irmã! — A filhote alaranjada solta mais um rosnado. — Me odeiem o quanto quiserem, mas deixem minha família longe de suas bocas ou terei o prazer de arrancar suas línguas e quebrar seus dentes!

O olhar de Tama encontra o chão. Dwala sempre a ensinou a nunca julgar ninguém e ela acabou deixando Nala e Sarafina manipularem suas ações em relação à Nafsi.

— Não ligue para ela, Tama. — Diz Nala, finalmente ganhando coragem e empurrando Nafsi para longe da amiga, que estava encolhida. — Só está com ciúmes por não ter amigos. Nem a própria irmã gosta dela.

Nafsi bufa e se afasta das duas. Nala ajuda Tama a levantar, mas Tama se afasta dela.

— Nafsi está certa, Nala. — Virou o rosto para longe da amiga. — Não devíamos julgar os outros sem saber do caminho que percorreram até aqui.

— Está do lado dela agora?! — Exclama Nala, incrédula com a atitude da amiga. — Espere só até Malka saber disso, nossa própria amiga virando as costas para nós!

— Não estou do lado de ninguém. — Respondeu Tama, bufando frustrada. Para uma leoa esperta, Nala conseguia ser bem estúpida às vezes. — Além disso, deixe Malka fora dos assuntos das Terras do Reino, ele não está aqui e, se estivesse, também odiaria saber sobre o que fizemos com Nafsi. — Tama estava irritada. Odiava quando Nala, ou qualquer outro dos filhotes colocava o nome de Malka nas conversas com ela. — Me diga uma única vez que Nafsi fez algum mal para nós. — Nala não responde nada. — Exatamente, Nala! Ela nunca tentou nos prejudicar. Pelo contrário, nós a prejudicamos sem termos nenhum motivo. — Nala abaixa a cabeça. — Sei que está de luto pela morte de Simba, todos nós estamos! Mas descontar sua raiva nos outros não ajuda a superar.

Tama se afasta de Nala e se dirige na direção que Nafsi foi.

— O-Onde está indo, Tama?! — Pergunta Nala, agora arqueando as orelhas.

— Conversar com Nafsi. — Responde a filhote, ignorando o leve choque de Nala. — E pedir desculpas por tudo que fizemos.

— E o que farei até você voltar? — Começou a seguir a amiga.

— Não sei. — Tama franze a testa e para uma última vez para olhar por cima do ombro. — Mas você é boa fazendo a cabeça dos outros, achará alguém para brincar com você.

Com isso, Tama se retirou, deixando Nala com seus pensamentos. Ao longe, Scar observava a interação das filhotes. Sabia que fizera a escolha certa ao escolher Nafsi como principal herdeira ao invés de escolher Nuka. Só de pensar no filhote de Zira, o rei torce o nariz; ele era fraco, não tinha propósito. Mas Nafsi? Nafsi tinha tudo e um pouco mais para ser rainha, só precisava de um empurrãozinho na direção certa. Scar abre um sorriso maligno.

Sim, Nafsi seria a herdeira perfeita. Ele se retira sem ser visto e começa a caminhar até o esconderijo da filhote.


[…]


— “Só está com ciúmes por não ter amigos”, blá, blá, blá. — Nafsi debocha. A filhote despistara Tama alguns minutos atrás no cemitério e agora, estava escondida num crânio de elefante. — Por que alguém quer ter amigos que só falam mal de você e te maltratam?

— Sabe, me fiz a mesma pergunta quando tinha sua idade. — Nafsi se vira, assustada. A filhote se acalmou ao ver Scar parado na frente do crânio. Por algum milagre, o leão estava desacompanhado. Talvez suas hienas estivessem de guarda? — Meu pai tinha o costume de virar meus amigos contra mim.

A filhote sai do crânio e se aproxima de Scar, que tinha se deitado e agora, a encarava. Nafsi se senta na frente de Scar, esperando o leão terminar.

— Passei a ficar longe dele e dos outros. Depois de um tempo, meus amigos tentaram se aproximar, em vão. — Completou bocejando. — Ouvi o que disse para Nala, Nafsi, e sei que o que você mais quer é ser aceita por ela e pelos outros.

Nafsi abaixa as orelhas e vira o rosto.

— Está tão na cara assim? — Estava envergonhada e Scar sabia. Apesar de querer usar isso contra a filhote, ele se controlou.

— Lamento, mas sim. — Ele respondeu, acariciando a cabeça da pequena e fazendo-a encará-lo. — Não deixe que a falta de amizade te intimide ou tome o melhor de você, Nafsi.

— Mas... é tão difícil, tio Scar. — A pequena franze a testa. — Eles nem sequer me dão uma chance. C-Como você conseguiu?

— Depois de alguns anos na sombra de meu irmão, comecei a procurar outros amigos. — Respondeu, abrindo um sorriso pequeno. — Amigos que não me traiam, que não me desamparem.

— As hienas. — Nafsi concluiu.

— Exatamente. Quer um conselho, Nafsi? — Ele indaga, notando a filhote erguer as orelhas.

— Adoraria, tio Scar. — Ela sorri levemente.

— Não se... apegue à amizades superficiais. Acabará se decepcionando. — Ele se levanta e começa a andar, parando para olhar por cima do ombro e sorrir para a filhote. — Lembre-se, Nafsi: Se quiser ser rainha, deve conquistá-los. Se não conseguir conquistá-los com bondade, conquiste-os com medo. É muito melhor ser temido do que ser amado.

Nafsi observa enquanto Scar se retira com as sobrancelhas franzidas. A filhote sentiu finalmente algo ter sentido em sua vida. Nafsi abre um sorriso pequeno.


[...]


Já era de tarde quando Scar voltou para o reino. Podia ver uma comoção entre as hienas e algumas leoas. Ia ficar com dor de cabeça, com certeza. O leão logo ouve passos se aproximando e suspira. Para a felicidade do leão, era sua rainha. Para o desânimo dele, ela não estava com uma cara boa.

— Que é, Heneia? — perguntou, revirando os olhos.

— Visitantes. Não vão partir até que falem com você. — Heneia responde seca.

— Não pode resolver? — O leão estava nervoso, mas se recusava a demonstrar. — Estou cansado demais para essas... Tolices.

— Querem falar com o rei. — Heneia franze a testa, revirando os olhos e bufando. — A rainha não atinge as expectativas deles.

Scar solta um "Tsc". — Leve-me até eles. — Heneia confirma com a cabeça e os dois seguem em direção à fronteira do reino, onde dois leões, cercados por hienas, se encontravam. O macho era marrom escuro e seus olhos, um tom de azul. Sua juba era preta e não estava completa, algo que deixou o rei intrigado. Como um jovem adulto ousa entrar em seu domínio?

A leoa foi quem chamou a atenção de Scar. Sua pelagem era marrom-claro com um degrade mais escuro nas patas e seus olhos eram vermelho-rubi. Usava um par de brincos, pelo que o rei notara e um colar de penas repousava em seu pescoço.  Ela era bonita, misteriosa, até.

Pelo que Scar notara, ambos tinham marcas de tinta roxa em seus rostos. Realeza.

— O que fazem aqui? — Scar começa, franzindo a testa. Nenhum outro reino ousaria chegar perto de suas terras, afinal, o reino estava em ruínas. — Minha esposa disse que querem falar comigo. A beleza dela não os agradou?

— Pelo contrário, Majestade, ela é encantadora, mas sua presença era requisitada principalmente. — A leoa começa. Scar não podia negar que ela tinha jeito com as palavras. — Sou a Rainha Furya, do Reino das Rochas. Filha do Rei Aeris e da Rainha Yasu. — A leoa se pronuncia. Sua voz, apesar de rouca, era forte. — Meu reino sofreu um ataque há alguns dias e perdemos alguns membros. Esperávamos que Vossas Majestades pudessem nos ajudar. Uma aliança entre nossos reinos, talvez?

Scar pensa por alguns segundos. — Que benefícios essa aliança traria?

— Não passar fome, que tal? — O acompanhante de Furya resmunga, ganhando um rosnado de Scar e Heneia. Furya manda um olhar de desaprovação para o parceiro, que limpa a garganta. — Apesar do ataque, nosso reino ainda prospera, tem comida e água em abundância. Você, suas leoas e suas... — Fez uma pausa e torceu o focinho, enjoado pela palavra. — ...Hienas podem caçar lá à vontade.

A expressão de Scar logo passa de uma raivosa para uma expressão estoica. Heneia o olha de relance. — As hienas estão com fome, Scar. As leoas e os filhotes também. — Ele a ignora e ela suspira. — Quer que suas herdeiras morram de fome?

A simples menção das herdeiras do rei fez com que as orelhas de Furya e de seu parceiro se erguessem e os dois se encaram, sorrindo discretamente um para o outro.

— Trouxemos uma oferenda também, Majestade. — Furya começa, sinalizando com a cabeça para o parceiro, que se retira e volta depois de alguns minutos com uma carcaça de gnu. — Para os filhotes do reino, é claro.


[...]


Scar havia permitido a estadia temporária de Furya e Damon. A presença dos dois, apesar de incomodá-lo, acalmou os nervos das leoas e das hienas, afinal, as carniceiras teriam o que comer por um tempo sem importunar os filhotes e as leoas não teriam que se preocupar tanto com seus pequenos.

Pela primeira vez desde o nascimento de Kidogo e Nafsi, nuvens de chuva cobriam o céu outrora estrelado. Scar estava sentado na ponta da Pedra do Rei, observando seu reino em ruínas.

— Majestade? — Era Damon. Scar, por algum motivo, não gostava muito da presença do leão. Talvez fosse o fato de Damon ser mais jovem e ter o físico mais forte ou talvez o fato de Damon não saber quando se calar. Fosse o que fosse, contanto que suas leoas e hienas fossem alimentadas, Scar não se importava.

— Precisa de algo, Rei Damon? — O tom do rei era seco. A mera presença do forasteiro o incomodava e muito. — Furya já está na caverna.

O leão marrom se aproxima. — Temos outro motivo, além da aliança, para visitar seu reino.

— Ah, e qual seria ele? — Era uma pergunta retórica. Scar não queria e não precisava saber, mas Damon não entendeu isso ou simplesmente não se importava.

— Tenho dois filhos em casa, um menino e uma menina. — Sentou-se ao lado de Scar, sorrindo levemente e olhando para o horizonte seco e morto. Quem visse de longe pensaria que os dois eram velhos amigos conversando. — O menino é o sucessor ao trono e Furya esperava encontrar uma parceira para ele em outro reino. — Ah, sim. Aí estava. Scar torce o focinho, discreto o bastante para Damon não notar.  — Ela achou algumas filhotes interessantes e queria saber se você estaria disposto a mandá-las, junto das mães, para o Reino das Rochas.

— Pensarei sobre isso. — Scar responde, sem tirar os olhos do horizonte. A resposta foi boa o bastante para Damon, afinal, ele concordou com a cabeça e se retirou.

Scar rosna. O rei já sabia o motivo de seu desgosto pelo leão: Damon era um péssimo mentiroso.


[...]


Nafsi voltara para a caverna depois da hora do almoço. Estava assistindo da Pedra do Rei enquanto Scar e Heneia acompanhavam um casal de leões para a caverna e franziu a testa, decidindo procurar Kidogo quando trombou com Chumvi e Tojo encurralando a dita filhote.

— E é bom ficar bem longe dos pássaros do Tojo! — Chumvi exclama, notando Kidogo se encolher e fungar. Seus olhos azulados, que sempre brilhavam de felicidade ao ver os filhotes, estavam aguados e seu rosto estava mostrando uma feição de medo.

Nafsi observa com atenção. Sentia algo estalar dentro de si, mas não se intrometeu na discussão de início. Queria ver até onde os dois filhotes iriam com sua estupidez.

— E-eu já disse que não foi… — Kidogo é interrompida por Tojo.

— Não ligo se foi sem querer! — O filhote mais claro grita. — Pelos reis, você e sua irmã são mesmo um empecilho. Deviam simplesmente… Sumir! — Tojo ergue a pata, pronto para acertar a filhote mais nova, mas antes que pudesse machucar Kidogo, Nafsi corre até os três e empurra Tojo para o lado com uma cabeçada.

— Tente acertar minha irmã, lhe desafio! — As garras de Nafsi estavam à mostra e o pelo de sua nuca eriçado. Chumvi se encolhe com o tom de voz de Nafsi e Tojo, que se levantava, chacoalhou o corpo. O filhote de pelo claro solta um “Mas ela…" e Nafsi o corta. — “Mas” nada! Já cansei de tolerar os abusos que você e o resto dos filhotes fazem, já cansei de ser machucada por vocês só porque pensam que são melhores que nós! — Os gritos de Nafsi chamam atenção de algumas hienas, que se aproximam para assistir. Tojo e Chumvi agora estavam com medo. Sabiam que Nafsi, como herdeira de Scar, poderia muito bem ordenar que as hienas matassem os dois e as carniceiras obedeceriam sem pestanejar. — Se tentarem machucar minha irmã ou a mim outra vez, não hesitarei em transformá-los em comida de hiena! Vamos, Kidogo.

Nafsi se aproxima da irmã e passa o braço por cima do ombro da mais nova, a guiando para a caverna de ratos. As hienas, observando as mais novas se afastarem, também se dispersam, deixando os dois filhotes sozinhos.

— O que pensam estar fazendo?! — Era Tama. A filhote creme vira o grupo de hienas se aproximando e resolveu investigar. Kula e Mchanga estavam logo atrás dela.

— Estávamos ensinando uma lição à Kidogo, até Nafsi aparecer. — Responde Chumvi, revirando os olhos e abrindo um sorriso. — Tinha que ter visto a cara de medo da Kidogo, foi impagável!

— Im-Impagável?! — Kula grita. Após desistir de procurar Nafsi, Tama voltou para o reino e falou com Kula e Mchanga sobre o tratamento injusto que os filhotes davam a Nafsi e Kidogo e ambos concordaram em pedir desculpas junto da filhote creme. — Vocês são dois idiotas mesmo, hein!

— Do que está falando, Tama? — Tojo indaga, inclinando a cabeça. — Kidogo assustou meus pássaros, foi justificado!

— Não interessa o que ela fez, o que interessa é que vocês dois, assim como a Nala, são um bando de imbecis hipócritas. — Mchanga se intromete, revirando os olhos e bufando. — Quantas vezes Nafsi ou Kidogo fizeram algo para nos machucar ou prejudicar? E quantas vezes nós fizemos algo contra elas?

Tojo e Chumvi olham para as patas. Mchanga estava certo e os dois sabiam.

— E que história é essa de Kidogo assustar seus pássaros, Tojo? — Kula, agora mais calma, indaga. — Por todos os defeitos, Kidogo nunca assustaria seus preciosos bebês de propósito.

Tojo suspira. — Nala disse que viu Kidogo encurralando e mostrando as garras para os pássaros.

Kula, Tama e Mchanga se encaram, franzindo as testas.

— E sua resposta foi encurralar e mostrar as garras para Kidogo?! — Tama se exalta. Por mais que fosse quase imperceptível, os filhotes podiam notar a veia saltada em seu pescoço. Era raro Tama se estressar a esse ponto. — Nem sequer pensaram em deixar Kidogo se explicar?! Ou, eu não sei, pensaram em perguntar para os pássaros?! Sabem o que poderia acontecer se Scar visse vocês tratando Kidogo assim? Ou, pior ainda, que os Reis proíbam isso, se Heneia visse o que vocês, não, nós fizemos com as filhas dela? As injustiças que fizemos pelo simples fato de estarmos cegos pelo nosso ódio por Scar são… são demais para contar e eu não culparia Nafsi se ela escolhesse não nos perdoar.

Os dois filhotes abaixam as orelhas.

— Essa história de importunar Nafsi e Kidogo acaba hoje. — Kula diz, batendo a pata no chão.


[...]


Já era noite. Os filhotes já estavam na caverna com suas mães e as hienas, do lado de fora. Scar se deitou ao lado de Heneia, que banhava uma Kidogo chorosa. Nafsi, que estava deitada ao lado da mãe, estava com uma expressão brava e suas garras estavam para fora. Scar, apesar de ter notado, evitou comentar, até perceber Kula, Tojo, Chumvi, Mchanga e Tama se aproximando hesitantes do rei e de sua parceira.

O leão arqueia a sobrancelha e Nafsi, que notara a aproximação dos filhotes, rosna baixo. — Que é que vocês querem agora? — A filhote resmunga.

Os filhotes trocam olhares nervosos e Scar rosna, ganhando a atenção das leoas e de Damon e Furya.

— Se não tiverem algo útil para falar, então vão deitar com suas mães. — O leão de juba negra diz ríspido. — Já aborreceram as princesas por hoje e sugiro que não as aborreçam ainda mais.

Mchanga pigarreia, se pondo na frente dos outros. — Q-queríamos pedir desculpas à Nafsi e Kidogo por nosso comportamento nos últimos meses. — Os outros filhotes concordam com a cabeça e Nafsi ergue uma das sobrancelhas. — Temos sido horríveis com as duas por nenhum motivo então, por favor, nos desculpem.

Kidogo hesita um pouco, mas logo sorri.

— A-aceitamos suas desculpas. — Ela olha para a irmã. — Certo, Nafsi?

A filhote marrom-alaranjada solta um humph. — Fale isso por você, Kidogo. Não aceitaria suas desculpas fajutas nem que estivessem pegando fogo.

— Nafsi! — Heneia repreende e Nafsi vira as costas para os outros filhotes. A rainha suspira e sorri apologética para os filhotes. — Sinto muito pelo comportamento dela, pequenos.

— Não, nós merecemos esse tratamento, tia Heneia. — Kula se aproxima, suas orelhas estavam baixas e sua face mostrava vergonha. — Temos tradado Nafsi e Kidogo pior do que insetos e Nafsi está certa em nos tratar assim.

Heneia arqueia a sobrancelha e Scar suspira.

— Os pequenos tratam nossas Princesas com... desprezo. — O leão de juba negra resmunga. — Por sorte, sou um rei clemente, não os punirei contanto que não se repita.

Os filhotes engolem em seco. Sabiam, com essas simples palavras, que Scar sabia de tudo o que faziam com Kidogo e Nafsi.

— O-obrigado pela clemência, M-Majestade. — Mchanga murmura tímido. — P-podemos fazer algo para... agradá-los essa noite?

Scar pensa um pouco e Heneia se intromete. — Não será necessário, querido. Mas obrigada pela sinceridade. — A mais velha sorri. — Tenho certeza que Nafsi vai desculpá-los com o tempo.

— Talvez em seus sonhos... — Nafsi bufa.

— Nafsi! — Heneia exclama, ganhando um encolher de ombros da filhote.

          

OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Mais uma postagem concluída antes do fim do ano, ainda bem. Pra encerrar o ano com chave de outro, trago a vocês o primeiro capítulo de Reinado Sombrio. 

2022 foi um ano difícil pra todos nós e, pra mim, foi um ano de muitas perdas. Mas esse capítulo está aqui pra agradecer todos vocês que estiveram comigo através dos altos e baixos. Então, muito obrigada a todos e obrigada pela paciência que vocês tiveram comigo até agora.

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-

07 janeiro, 2022

Reinado Sombrio [Prólogo]

As nuvens cobriam o céu nas Terras do Reino. As leoas, que estavam chorosas, se aproximavam da Pedra do Rei, onde Scar se preparava para dar seu discurso. O leão alaranjado mostrava um semblante triste e em seu rosto tinham resquícios de lágrimas.

— A morte de Mufasa é uma tragédia horrível — Scar começa, notando as leoas soltando algumas lágrimas e lamentos tristes. —, mas perder Simba, que mal começou a viver... — Fez uma pausa, olhando para baixo, como se pensasse no que dizer a seguir, e forçando uma expressão desolada. Sua atenção logo voltou para as leoas. — Para mim, é uma perda muito pessoal. — O leão se levanta da pedra que estava sentado e sobe a escadaria da Pedra do Rei. — E é com profunda tristeza que assumo o trono — as leoas ouvem risadas se aproximando e logo um exército de hienas se aproxima, aglomerando-se em volta das leoas, que puxavam seus filhotes para mais perto. — Mas é das cinzas dessa tragédia que levantamos para saudar o alvorecer de uma nova era, na qual leões e hienas estarão juntos num grande e glorioso futuro.

Da ponta da Pedra do Rei, Scar solta um rugido, alertando todos os animais sobre o início de seu reinado. As leoas, agora preocupadas, se encaram. Sabiam que o destino do reino estava selado com Scar no trono, mas não podiam fazer nada sem desencadear sua ira.

Scar desce da Pedra do Rei e se dirige às leoas.

— Sarabi, comece a caçada — o tom do leão passara de triste para frio. — Temos várias bocas para alimentar agora. Começarei a patrulha com as hienas — O leão então se vira para Zazu. — Toda e qualquer atividade suspeita nas fronteiras do reino deverá ser relatada a mim. Se eu não estiver disponível, fale com Shenzi — ele faz uma pausa breve. — Ninguém entra ou sai sem minha permissão.

— E os filhotes? — Indagou Sarafina, arqueando a sobrancelha e acariciando a cabeça de Nala. — Espera que os deixemos sozinhos quando a maioria de suas carniceiras está à espreita?

— Seus filhotes estarão seguros contanto que não me aborreçam — Scar resmunga, virando de costas para as leoas. — Terão minha palavra de que nenhum deles será ferido, contanto que sejam mantidos na linha.

O leão se afastou, sendo seguido por algumas hienas. Sarafina encara Sarabi. A leoa tinha uma expressão preocupada, temia pelo bem de sua filha e do filhote que estava gestando e temia ainda mais pela saúde mental de Sarabi, afinal, a rainha perdera o marido e o filho, e seu cunhado não era mais o filhotinho brincalhão de antes.

— Vá para a caverna, Sarafina — começa Sarabi, sorrindo tranquilizadora para a amiga. — Descanse, você precisa. Leve os filhotes com você — a expressão triste de Sarabi não passou despercebida por Sarafina, mas a leoa não comentou nada. — Logo voltaremos com carne o bastante para você e para os pequenos.

— Se tem alguém que precisa descansar, Sarabi, é você — Dwala, irmã caçula de Sarabi, comenta. — Acabou de perder seus bens mais preciosos. E, por mais que não queira, você tem que descansar — a leoa bate a pata no chão. — Você e Sarafina vão para a caverna. As outras e eu caçaremos hoje.


[...]


Dois meses haviam se passado desde a morte de Mufasa e o reino ia tornando-se pior. As hienas, esfomeadas, espantavam a maioria das hordas de herbívoros. Quando as leoas conseguiam alguma comida, sediam para seus filhotes.

Era mais uma manhã sombria quando o sono de Scar foi interrompido. O leão ouvira o bater das asas de Zazu, que entrou na caverna e aguardava o despertar do rei. Abrindo os olhos, Scar bocejou e se espreguiçou, então se levantou e caminhou até a ave.

— Conte as novidades, Zazu — começou, franzindo a testa. Se tinha algo que Scar odiava era ser acordado —, e seja rápido.

Zazu faz uma reverência breve e pigarreia, levando a asa à boca. — Majestade, as hordas se afastaram ainda mais do reino — a ave estremece ao ouvir Scar rosnar, mas continua seu discurso. — Tudo está se tornando escasso rapidamente.

Scar passa por Zazu, que alça voo e segue o rei. — O que mais? — O leão estava entediado. Queria começar sua patrulha quanto antes agora que tinha acordado. — Você geralmente tem algo a mais para comentar, Zazu — o pássaro não responde por alguns segundos, pensando na resposta. Scar, não gostando de ser ignorado, rosna novamente, dessa vez, mais alto. — Fale logo. Não tenho paciência para jogos, sabe muito bem disso!

Zazu engole em seco.

— Não... devo opinar em como você governa, Scar — Zazu plana ao lado de Scar. Podia ver nitidamente as cicatrizes na sobrancelha do leão. Estufando o peito e ganhando uma breve onda de coragem, a ave continua —, mas deveria controlar a quantidade das caçadas. Boa parte das leoas está prenha, não seria sensato fazê-las se esforçar.

Scar bufa e passa pelo calau, saindo da caverna e descendo a escadaria da grande pedra. 

— Tem razão, Zazu — comentou sem olhar para trás, perdendo o olhar surpreso do calau. —, não deve opinar em como governo meu reino.

Zazu suspirou. Não podia negar que, pelo menos, havia tentado. Se sentindo derrotado, Zazu alçou voo.
Enquanto isso, Scar se reunia com as hienas. Shenzi, que o aguardava, abre um pequeno sorriso. 

— Relatório, Shenzi — o leão começa, sentando-se e bocejando. 

— Há relatos de uma leoa vagando as fronteiras do reino — Shenzi começa. A hiena estava ansiosa, queria a permissão do rei para espantar a forasteira. Com um pouco de sorte, poderia até matá-la. — Foi vista a última vez perto do olho d’água. 

Scar arqueia a sobrancelha. 

— Parece um pouco... animada com isso, Shenzi — comentou o leão, abrindo um pequeno sorriso, seus olhos verdes brilhando com maldade. — Não vamos matá-la até sabermos o que ela quer aqui.

Shenzi estava um pouco decepcionada, mas não contestou. A hiena apenas reuniu um pequeno grupo de escolta para Scar, e o leão e o grupo seguiram para o olho d’água para procurar a dita leoa.


[...]


Scar e seu grupo estavam à procura da leoa invasora há algumas horas. Pararam para beber água, quando o rei sentiu um cheiro adocicado vindo de algumas moitas. O leão de juba preta se aproximou lentamente. Ao chegar perto das moitas, Scar afastou a folhagem com cuidado. Se fosse um herbívoro, Scar seria rápido o bastante para abatê-lo.

Para a surpresa do rei, era uma leoa. Seu pelo era marrom caramelo e uma pequena franja descansava em sua cabeça. Scar devia tê-la encarado por um tempo, pois a leoa estava acordando e, ao notar o leão, se colocou em uma posição defensiva. Com a mudança de posição da leoa, Scar pôde notar a barriga dela. 

— Lugar estranho para descansar — ele arqueia a sobrancelha. — Ainda mais no seu estado. O que faz aqui?

— E-eu só precisava descansar um pouco, estou vagando há dias e... — Scar a corta. 

— Precisa descansar e comer algo — diz, dando espaço para a leoa sair da moita. Só agora, com um pouco mais de claridade, o leão notou o tom azul-violeta dos olhos dela. — Saia, não vou machucá-la.

A leoa, relutante, sai da moita, dando de cara com várias hienas, que a encaravam com fome. — Você e sua prole estão sob a proteção das Terras do Reino e sob a proteção do Rei Scar — Scar diz com orgulho, alto o bastante para as hienas ouvirem, recebendo um pequeno sorriso da leoa, que o reverencia em seguida. — Por favor, levante-se. Não há necessidade disso.

As hienas encaram a cena confusas. Nunca viram Scar agir de tal forma com nenhuma leoa do reino, por que ele agiria assim agora, ainda mais com uma forasteira?

— Diga-me, qual seu nome? — O leão indaga, pondo-se ao lado da leoa. 

— Heneia, majestade — ela responde, sorrindo gentilmente, exibindo sem querer suas sardas. — Peço desculpas por invadir seu reino. 

— Apenas Scar está bom — Scar responde, começando a caminhar na direção da Pedra do Rei, seguido por Heneia e as hienas. — Além disso, não deve pedir desculpas, fez o que foi preciso para manter-se a salvo — Scar olha por cima do ombro e mostra um sorriso pequeno. — Perdoe minha indelicadeza, mas o que houve com seu parceiro?

— Para o bem dele, espero que tenha caído de um penhasco — Responde a leoa, franzindo a testa e fazendo uma careta de amargura. — Serviu apenas para me emprenhar e inventar promessas vazias. Assim que anunciei a gravidez, ele espalhou para meu antigo reino que eu o traí e me trocou por outra leoa. 

Scar alargou levemente os olhos. A resposta de Heneia certamente o surpreendeu.

— Que tipo de leão seria estúpido o bastante para deixar uma leoa bela como você escapar? — Indagou retoricamente, notando o pelo das bochechas da leoa enrubescendo levemente. — Será bem-vinda para ficar aqui o tempo que quiser, Heneia, contanto que possa contribuir para o reino. Quando sua prole vai nascer?

— Posso participar das caçadas depois que me recuperar do parto, ajestade. Era a caçadora principal do meu reino — Heneia responde, estufando o peito com orgulho, fazendo Scar sorrir. — Vou dar à luz em breve, muito provavelmente semana que vem.

— Minhas leoas vão recebê-la de braços abertos, tenho certeza — Ele responde, mantendo o sorriso, a fachada de bom moço. Sabia que se as leoas não obedecessem seus desejos ele faria algo contra os filhotes. — Tenho certeza que Sarabi será gentil o bastante explicando como o reino funciona. 

Os dois logo chegam a Pedra do Rei e Scar manda Banzai guiar Heneia até a caverna e explicar a história para as leoas. Assim que chegaram na caverna, foram recebidas por Sarabi. A rainha sorriu gentilmente para Heneia e soltou um rosnado baixo para Banzai. 

— Scar tem uma nova adição para seu grupo de caça. Ela está para dar à luz, como deu para notar, e ele insistiu que ela fosse bem recebida — a ênfase não passou despercebida por Sarabi, que rosna baixo e Banzai revira os olhos para a rainha. Tinham essa estranha rixa desde a época do reinado de Uru e, se fosse sincero, Banzai estava cansado dela. — Heneia, essa é Sarabi, antiga rainha e atual líder de caça. Scar também pediu para você explicar as regras do reino a ela. 

— É só isso, Banzai? — A viúva indaga. Não estava nem um pouco satisfeita com a aparição da hiena, ainda mais com filhotes por perto. — Se isso for tudo, pode se retirar. 

Banzai faz o que Sarabi pede. Não queria ficar perto da leoa, ainda mais após ter entrado em várias brigas com ela com o passar dos meses.

— Bem, já fomos apresentadas — a mais velha volta a sorrir gentilmente. — Espero que Scar não tenha lhe causado nenhum problema.

— Ah, não. Pelo contrário. — Heneia começa, retribuindo o sorriso. — Ele foi muito gentil.

Sarabi arregala os olhos. “Scar, gentil? Impossível!” A surpresa da rainha não passa despercebida por Heneia. 

— E-Ele não é assim normalmente? — Heneia estava confusa. O rei lhe parecia um leão tão gentil. Claro, estava cercado por hienas, mas a leoa pensava serem sua guarda pessoal, um método para manter forasteiros afastados. 

— Scar está longe de ser um leão gentil — Sarafina, que ouvira a conversa, comentou enquanto se aproximava. — O reino está em ruínas graças a ele. Sugiro que seja cautelosa perto dele, querida. 

— Sarafina — Sarabi diz em tom de alerta, fazendo a leoa de pelo claro se calar. Sarabi suspira. — Infelizmente, receio que Sarafina esteja certa, Heneia. Deve ser cautelosa perto de Scar — a antiga rainha encara a leoa marrom com uma expressão preocupada. — Ficar com Scar é como ficar perto de ovos de avestruzes. Ele é imprevisível, está raramente satisfeito com algo e, se ele foi gentil, como você disse, deve ficar em alerta. — Heneia agora estava preocupada. Só queria o melhor para seus filhotes, mas parecia ter se metido em uma enrascada enorme. — Mas estará segura conosco. Tome apenas cuidado com Zira e suas companheiras.


[...]


Era uma madrugada de tempestade quando Heneia começou a sentir contrações. A leoa acordara Sarabi, que reuniu as outras leoas e mandou Zazu buscar Rafiki. A pobre ave mal precisou avisar o mandril sobre o que estava acontecendo. Rafiki pegou seu cajado, algumas ervas medicinais e os dois partiram rumo à Pedra do Rei. 

Quando chegaram, Rafiki fez Scar, as hienas, algumas leoas e os filhotes ficarem do lado de fora enquanto ele, Sarabi, Dwala e Naanda ajudam a leoa em seu parto.

Já tinham se passado algumas horas, mas o filhote não saía. Rafiki agora estava mais preocupado com o bem-estar de Heneia do que com o filhote, até que, enquanto um raio caía fora da caverna, Heneia soltou um rugido de dor e logo o filhote nasceu. O pequeno não demonstrava sinais de vida, não miava. Com cuidado, Rafiki pegou o filhote e, usando uma casca de coco com água, o mandril limpou todo o sangue que o cobria e o entregou para a mãe.

— É uma menina — diz ele, com uma expressão sombria no rosto —, mas está fraca, jovem mãe. Talvez não sobreviva até o amanhecer.

Heneia franze a testa, mas logo solta um rosnado de dor. Sarabi e Naanda ficam ao lado da leoa.

— Rafiki? — Sarabi indaga preocupada, pegando a filhote de Heneia e a entregando para a irmã. — O que está...

— Teremos mais um! — O mandril interrompe, se preparando para a chegada do próximo filhote. 

Heneia estava quase desmaiando de dor. Sua cabeça girava e sua visão estava embaçada, mas ainda assim, a leoa fez força e após mais alguns rugidos de dor, o segundo filhote nasceu. Este filhote estava mais alerta, miava e farejava. Rafiki, que antes exibia um semblante triste, agora mostrava um semblante mais feliz.

— Mais uma menina, Heneia. Essa está mais forte — o mandril sorri e limpa a segunda filhote. Após terminar de limpar a segunda filhote, Rafiki a entrega para Naanda, que a coloca ao lado da primeira.

A leoa de pelo marrom encara as filhotes com um pequeno sorriso no rosto, então as lambe. Heneia deixa seu olhar repousar na filhote mais velha, que solta um miado baixo. Com cuidado, a mamãe de primeira viagem esfrega seu focinho na barriga da pequena, que põe a pata dianteira no focinho da leoa e mia novamente, dessa vez mais alto.

As três leoas e o mandril arregalam os olhos.

— Uma guerreira! — Rafiki sorri, batendo palmas de forma alegre enquanto da risada. — Os Reis nos presentearam com uma guerreira! E que presente!

Antes que Rafiki pudesse comemorar mais, Scar entra na caverna, seguido pelas outras leoas. O rei passaria direto por Heneia se não tivesse notado a pequena bola de pelos marrom-alaranjada que estava nas patas da leoa. Parando na frente de Heneia, Scar observa os filhotes. A mente do leão corria, formando um plano para Heneia e sua prole. Ele abre um sorriso falso e se senta.

Heneia, que tinha se distraído enquanto lambia as filhotes, não notara a aproximação de Scar, que agora estava inclinado para frente, olhando diretamente nos olhos da filhote alaranjada, que o encarou com curiosidade.

— Devo dizer, Heneia — começou, alargando o sorriso e assustando levemente a leoa. —, meus parabéns. Sua prole parece...saudável.

— Scar. S-sim, são saudáveis — a leoa gagueja. Ainda estava exausta, mas tentava agradar o leão, afinal, não queria que ele descarregasse sua fúria em suas filhotes.

— Já decidiu algum nome? — O leão indaga, se erguendo novamente, notando a filhote alaranjada erguer a pata para tentar alcançá-lo.

— A mais nova, de pelo claro, se chamará Kidogo. É a menor das duas — a leoa começa, soltando uma risadinha. Scar apenas arqueia a sobrancelha, aguardando a leoa terminar. — N-não pensei que teria mais de um filhote, acabei não pensando em um nome reserva. Gostaria de... me ajudar a escolher?

Scar pensa um pouco. Sua mente vagou brevemente para sua infância.

“ — Quando eu for rei e me casar, minha filha vai se chamar Nafsi, Sarafina! — O pequeno Takasa sorri orgulhoso. — Ela será a alma mais gentil do reino, trará coisas boas onde for!

— Que nome mórbido, Takasa. — A leoa de pelo creme resmungou, torcendo o focinho. — Pois quando eu tiver uma filha, o nome dela será Nala. Tenho certeza que ela vai ser a rainha de algum reino.”

— Não sei se minha sugestão vai agradá-la, Heneia — começou, franzindo a testa e virando o rosto. O leão estava hesitante pela primeira vez em anos —, mas quando era mais jovem, queria que minha primeira filha se chamasse Nafsi. Do meu ponto de vista, ela seria uma alma gentil.

Ao contrário do que Scar pensou, a reação de Heneia foi diferente da reação de Sarafina. A leoa, ao invés de fazer uma careta de nojo, sorriu.

— Deve ter um significado importante para você, Scar. Será Nafsi, então — Heneia vê um pequeno sorriso surgir no rosto de Scar e o leão vai para o centro da caverna. As leoas, que estavam exaustas pela comoção do parto de Heneia, seguem o exemplo de Scar e se deitam, todas em volta do rei, mantendo sua distância.

Tama, Tojo, Kula e Chumvi se reúnem em volta de Heneia, parabenizando a leoa.

Sarafina e Diku logo entraram também. Nala, que vinha logo atrás de Sarafina, torce o focinho ao ver as recém-nascidas e corre até sua mãe, que se deitou e logo deu banho na filha. A barriga de Sarafina já estava grande e em algumas semanas, seu segundo filhote nasceria.

Uma das últimas leoas a entrar na caverna foi Zira. Estava nos últimos dias da gestação, mas Rafiki alertou que sua gravidez era de risco e talvez seu filhote não vingasse já que a leoa estava deveras desnutrida. Passando por Heneia e revirando os olhos, Zira deitou-se ao lado de Scar, lambendo a bochecha do macho, que deu as costas para ela.

Era assim desde que ele descobriu o risco da gravidez: ele a ignorava. O rei via o filhote como um elo fraco, um filhote sem futuro que morreria assim que nascesse. E o ódio que Scar semeava pelo filhote acabou plantando uma semente de ódio no coração de Zira, afinal, ela queria a cópia perfeita de seu amado rei e bem, sua primogênita era uma cópia perfeita dela, com os olhos da cor de topázios. 

E falando em topázios, Taabu se deitou ao lado da mãe, sem encostar nela. Sabia o quão deprimida Zira estava ao saber do risco da gestação.

Rafiki, que estava na entrada da caverna observando a troca de interações, estremece. Sabia que Zira ficara amarga com as notícias de seu filhote e esperava que a leoa não tentasse nada com os outros filhotes. 

A essa altura, a tempestade tinha cessado e o mandril decidiu voltar para sua árvore, agradecendo aos Reis por darem uma chance à pequena Nafsi.


[...]


Algumas semanas já tinham se passado desde o nascimento das filhotes. O filhote de Sarafina também nasceu. Ele era pequeno, mas estava saudável, para surpresa de todos. Com as poucas semanas que passaram, o reino se desintegrou mais. As hordas tinham se afastado quase completamente, as hienas estavam mais ansiosas e as leoas estavam mais protetoras.

Scar tentava agradar suas seguidoras e as leoas ao mesmo tempo, sem sucesso. Zira exigia que Scar passasse tempo com ela e seu pequeno Nukala e o leão evitava a todo custo. 

Ele observava o reino da ponta da Pedra do Rei, aproveitando os poucos raios de sol que surgiam por entre as nuvens. A pedido de Heneia, o leão cedeu sua antiga caverna de ratos para os filhotes terem onde brincar. Hienas eram proibidas de chegar perto de lá sem a supervisão de alguma leoa.

Heneia. Scar não negava que sentia algo pela leoa. Sabia que não era apenas sua fome de poder e controle falando e amor era algo que o leão não queria sentir, então... o que era? Os pensamentos de Scar vagam até que ele ouve passos. Ergueu a cabeça e olhou por cima do ombro, vendo a leoa de seus pensamentos carregando uma perna de zebra. Scar se levanta e se aproxima da leoa, que coloca a carne no chão, aos pés do leão.

— Zira guardou um pouco para você — comenta a leoa, desviando o olhar. — Shenzi disse que queria falar comigo?

Scar começa a comer, ignorando brevemente a leoa. Após terminar, sua atenção volta para Heneia, que arqueia a sobrancelha. A leoa estava desconfortável. Raramente ficava sozinha com o rei por muito tempo.

Scar arruma a postura. — Não está com problemas, Heneia, se é isso que está pensando — começa ele, virando de costas para a leoa e caminhando de volta para onde estava deitado antes. Scar olha por cima do ombro e arqueia a sobrancelha. Heneia se aproxima com cautela. — Será minha rainha. 

— O-o quê? — Os olhos de Heneia se alargam. Como ele poderia pedir, não, exigir algo assim? — Não pode...

— Não é negociável — respondeu frio, olhando para a base da Pedra, gesticulando para algumas hienas, que agora, se aproximavam, subindo a escadaria decrépita. — Será minha rainha e ponto final. Quero um herdeiro digno e o filhote de Zira é fraco, provavelmente morrerá em alguns dias. Os filhotes mais velhos não vão servir — Scar rosna baixo e vira seu olhar para Heneia —, as mães não confiam em seus filhotes perto das hienas ou de Zira para treiná-los. Você, por outro lado, confia em deixar suas filhas com Shenzi, mesmo que seja por pouco tempo — pausou, voltando o olhar para o horizonte cinzento. — Sarafina e você tiveram filhotes quase no mesmo período, mas o fedelho dela é pequeno e frágil. Suas filhotes, pelo que o macaco disse, superaram as expectativas dos Reis e estão fortes. Duas herdeiras são melhores que nenhum. 

Heneia ouve alguns risos histéricos. Olhando por cima do ombro, ela vê as hienas que Scar chamara. “É um ultimato”. Heneia engole em seco.

— Por... por que eu, de todas as leoas? — Indaga a leoa marrom, baixando as orelhas. — Por que não Sarafina, ou Zira, o-ou Dwala, ou Naanda? 

— Amanhã rugiremos para anunciar nosso reinado — ele ignora a pergunta e ela suspira. O leão passa um dos braços em volta dos ombros de Heneia, abrindo um sorriso sínico no processo. — Não pode recusar, Heneia. Não é minha vida que está correndo risco, pense nas suas filhas. 

Heneia se afasta de Scar, que mantém o sorriso. 

— Não ousaria! — Ela rosna e mostra as garras, tentando parecer o mais ameaçadora possível.

— Não, claro que não — o leão responde, dando um passo na direção de Heneia. — As hienas, por outro lado, estão com fome — Heneia recua e vira o rosto. — O povo precisa de um pouco de esperança, Heneia, e Sarabi não vai se juntar a mim de bom grado, então... Sugiro que aceite.

A leoa de pelo marrom recua alguns passos e começa a correr, passando pelas hienas. Scar a deixou fugir. Sabia que Heneia não o recusaria. 

Até o momento do ultimato, Heneia tinha conseguido manter uma fachada relativamente neutra e segurar as lágrimas, agora, enquanto sentia o vento bater em seu pelo, a leoa deixou as lágrimas fluírem. Heneia apenas parou de correr quando trombou com Sarabi.

— Heneia, o que aconteceu? — A leoa estava preocupada, nunca vira Heneia chorar.

— Scar, ele... e-ele quer... — as palavras não saíam e Sarabi, em resposta, abraçou a leoa marrom, deixando-a chorar em seu ombro até que ela se acalmasse. Depois de alguns minutos, quando estava mais calma, Heneia respirou fundo. — Scar me quer como rainha. Foi um ultimato. Ele ameaçou as meninas, e-e-eu entrei em pânico.

— Não é sua culpa, Heneia. Qualquer leoa submetida a essa situação entraria em pânico — Sarabi sorri levemente, secando as lágrimas da leoa gentilmente com a pata enquanto tentava acalentá-la.

— Eu não aceitei. E-e não recusei. Ele quer anunciar a união amanhã — Heneia franze a testa. — O que eu vou fazer? Deve haver um jeito de burlar isso.

Sarabi suspira. — Você... não vai ter outra escolha, Heneia. A menos que algum milagre caia dos céus, terá que aceitar pelo bem de suas filhas, eu sinto muito. — Sarabi estava furiosa com Scar. Como ele ousa tratar Heneia e suas filhas como meras presas?! — Posso tentar falar com ele, mas o conhecendo, sei que não mudará de ideia por nada.

— Não pode fazer nada, Sarabi? — Heneia estava desesperada e suas lágrimas ameaçavam voltar. — Como antiga rainha, você conhece as leis. Não há nada que possamos fazer?

Sarabi nega com a cabeça e Heneia suspira. — S-se for a vontade dos reis, que assim seja. Cumprirei meu destino — Sarabi abraça Heneia uma última vez e as duas leoas vão para a caverna.


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OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Bem, como deu pra notar, trouxe o prólogo do Reinado de Scar para cá e, como deu pra notar também, o nome dessa história vai ser Reinado Sombrio. Dei uma leve modificada na escrita, acho que vocês vão notar se lerem a versão do outro blog

Quero especificar algumas coisinhas: 

1- Mheetu é cerca de três semanas mais novo que Nafsi e Kidogo e umas duas semanas mais novo que Nuka. Os dois vão ser amigos até que, bem... O Scar surte, na pior das hipóteses :v

2- Nala ama seguir as pegadas de Sarafina. Como eu já citei, Sarabi era uma das únicas que sabia que Scar mataria as gêmeas - a outra que sabia era a Shenzi -, então quando Scar disse que Heneia seria sua rainha, Sarafina e boa parte das outras virou as costas para Heneia. Nala apenas segue o que Sarafina faz/ensina.

3- A cena que Scar chama Sarabi para perguntar do grupo de caça, sabem? Os grupos de caça ficaram divididos entre diurnos e noturnos. Diurnos sendo o grupo da Sarabi e noturnos sendo o grupo da Zira. O grupo da Zira saía pra caçar sempre que o grupo da Sarabi voltava, mas Zira e seu grupo sempre iam para longe das Terras do Reino, por isso ela acreditava que Simba havia matado Scar. Nessa época, Nafsi e Kidogo estavam no final da gestação e Heneia estava se recuperando de uma doença, por isso não participavam da caçada nem da luta.


[Atualização 01/2024]: Oi, amores. Como cês tão? Bem, eu andei relendo o capítulo e percebi que meu headcanon tem vários furos como, por exemplo, a mãe da Tama ser a Dwala, fazendo com que ela e o Simba sejam primos, ou com a mãe do Chumvi, da Kula e do Mchanga ser a Naanda, então isso provavelmente vai mudar mais pra frente.

Vocês podem também estar se perguntando "ah, mas em três meses o reino não era pra estar com a comida tão escassa assim, então por que o Nula nasceu doente se a Zira saía com o grupo de caça dela pra caçar em outros territórios?" E, bem... O iceberg do meu headcanon é muito mais profundo do que outros headcanons e vai ter temas mais pesados.

No caso da Zira, do Scar e do Mufasa, eles são primos. O pai da Zira é irmão do Ahadi. Porém, todavia, entretanto, quando o Ahadi foi para as Terras do Reino, o irmão dele ficou no reino antigo e eles cortaram contato um com o outro, por isso o Scar e a Zira não sabiam desse envolvimento familiar deles. E a colocação de hoje está incesto lugar

Ah, mais uma coisinha, no headcanon, o nome do Mheetu vai ser Tabasamu. Mheetu vai ser só um apelido que as filhotes das seguidoras da Zira colocaram nele. Tabasamu, segundo o tradutor, significa sorriso afinal, foi o Mheetu que trouxe vários sorrisos para a Sarafina durante o Reinado de Scar. ALSO! O nome do Nuka sofreu uma alteração pra Nukala. Também segundo o tradutor, significa cópia, já que Zira achava que ele seria uma cópia perfeita do Scar.

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fique com Kami e bye -3-

26 dezembro, 2021

Saudações

OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-
Bem, como deu pra notar, estou com um blog novo e esse é somente para histórias relacionadas ao Universo Rei Leão Original. Ou seja, é aqui que vou fazer a tradução e adaptação dos livros Six New Adventures, é aqui que vai ter o Reinado de Scar, é aqui que as histórias que se passam nas Terras do Reino vão ficar. 

Bem, eu já comecei a traduzir o primeiro livro de Six New Adventures - O Conto de Dois Irmãos - e já percebi que, com toda certeza, é melhor eu fazer algumas adaptações. Como assim? Bem, é um livro voltado para crianças, então, vou adaptar a escrita para uma mais... Madura, digamos assim (tradução: a adaptação madura é meu estilo de escrita, não as cenas). 

Se, durante a escrita do Reinado de Scar, eu sentir que a história vai ter alguma coisa pesada (qualquer tipo de abuso, morte muito gráfica, menção de suicídio ou qualquer coisa desse tipo), vou colocar um Trigger Warning pra que vocês não tenham que ler determinada parte, mkay? 

Com esse blog vou me organizar entre Anida, Conheça a Personagem e, finalmente, o Reinado de Scar, então espero que vocês deem tanto amor pra esse blog, quanto vocês dão pro outro. 

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-