30 dezembro, 2022

Reinado Sombrio [Cap. 1]

Meses haviam se passado desde o nascimento de Nafsi, Kidogo, Nuka e Mheetu. Os filhotes, apesar das diferenças, quase sempre brincavam juntos, mesmo que suas mães se desprezassem. Nuka, ainda que doente, era um filhote doce e gentil, ao contrário de Zira, e quase sempre ficava com Sarabi. Mheetu, por outro lado, era geralmente proibido de sair de perto da mãe, a não ser que fosse para brincar com Nala. Sarafina detestava Heneia e sua prole desde que Heneia virou rainha, mas nada impedia o pequeno Mheetu de brincar com as filhotes.

Era mais uma manhã sombria nas Terras do Reino. Nafsi estava deitada em uma pedra, sob a sombra de uma árvore, vendo sua irmã brincar com os outros filhotes ao longe quando ouviu passos se aproximando atrás de si. Ela virou a cabeça levemente e viu Nala se aproximando com Tama. A filhote marrom-alaranjada apoiou a cabeça nas patas dianteiras e fechou os olhos, não queria ouvir nenhuma piadinha hoje.

— Mamãe diz que Scar só deixou a mãe dela ficar porque queria mais uma leoa para gerar filhotes. — Diz Nala, revirando os olhos. — E que o pai dela não passava de um forasteiro que usou a mãe dela.

— Que horror. — Responde Tama, rindo em seguida. — Não é a toa que ela é daquele jeito, toda estranha.

As orelhas de Nafsi se inclinam para trás. Sabia que as leoas falavam sobre sua família e conversavam perto dela de propósito.

— Sim. — Nala solta uma risada debochada. — E para completar, a mãe dela é a favorita de Scar, pode fazer o que quiser.

— Aposto que o pai da Nafsi as deixou justamente pela mãe dela ser oferecida. — Tama revira os olhos. — Já viu o jeito que ela se esfrega no Scar?

— Vi, sim. Oferecida, com certeza. — Nala revira os olhos, mostrando uma cara de nojo. — Nafsi será do mesmo jeito que a mãe.

— Parem de falar como se eu não estivesse aqui. — Rosnou a mais nova. — Se querem falar algo, falem na minha cara. Além disso, minha mãe não é oferecida. — Defendeu, se levantando, descendo da pedra e caminhando na direção das duas filhotes maiores. — Não devia falar da minha mãe quando é sua que se esfrega no Scar, Nala.

— Ora, sua... — Antes que a filhote de pelo claro pudesse terminar, Nafsi a interrompe.

— Eu ainda não terminei! — Exclamou a pequena. — Meu pai não deixou minha mãe por ela ser oferecida. Meu pai deixou minha mãe por ser um covarde! — Mostrou as garras e deu um passo mais perto de Nala. — Um covarde que só a usou e a largou para escanteio quando ela engravidou. Scar deixou minha mãe no reino por ela ser boa em caça e por ela estar grávida! — A cada passo que dava, Nafsi aumentava o tom de voz. — Você deveria se sentir privilegiada, Nala. Conheceu seu pai quando era menor, minha irmã e eu não tivemos esse desprazer, graças aos Reis!

— N-Nafsi, se acalme. — Murmura Tama, colocando a pata no ombro da mais nova. — Não falamos por... — Nafsi a corta, se virando rapidamente na direção de Tama.

— Me acalmar? Me acalmar?! — Gritou, avançando na direção de Tama. — Não ouse dizer “se acalme” para mim, Tama! Desde que nasci, você e os outros me tratam mal! Sempre que tento me aproximar de vocês, vocês correm enquanto dão risada! Sempre que tento falar com vocês, vocês acabam me machucando! — Para enfatizar, Nafsi mostrou a cicatriz em seu ombro direito. Ganhou a cicatriz de Chumvi quando tentou se aproximar para brincar com ele e os outros filhotes. Ele e Nala a cercaram e começaram a arranhá-la, foi uma das únicas cicatrizes que não se curou completamente. Tama estava encurralada contra a pedra que Nafsi estava deitada antes. A filhote tremia, nunca tinha visto Nafsi com tanta raiva, tanto ódio. Para Tama, Nafsi parecia maior agora que ela estava com raiva, quase como Scar. — A pior parte de tudo é que vocês falam mal de mim e da minha família perto da minha irmã! — A filhote alaranjada solta mais um rosnado. — Me odeiem o quanto quiserem, mas deixem minha família longe de suas bocas ou terei o prazer de arrancar suas línguas e quebrar seus dentes!

O olhar de Tama encontra o chão. Dwala sempre a ensinou a nunca julgar ninguém e ela acabou deixando Nala e Sarafina manipularem suas ações em relação à Nafsi.

— Não ligue para ela, Tama. — Diz Nala, finalmente ganhando coragem e empurrando Nafsi para longe da amiga, que estava encolhida. — Só está com ciúmes por não ter amigos. Nem a própria irmã gosta dela.

Nafsi bufa e se afasta das duas. Nala ajuda Tama a levantar, mas Tama se afasta dela.

— Nafsi está certa, Nala. — Virou o rosto para longe da amiga. — Não devíamos julgar os outros sem saber do caminho que percorreram até aqui.

— Está do lado dela agora?! — Exclama Nala, incrédula com a atitude da amiga. — Espere só até Malka saber disso, nossa própria amiga virando as costas para nós!

— Não estou do lado de ninguém. — Respondeu Tama, bufando frustrada. Para uma leoa esperta, Nala conseguia ser bem estúpida às vezes. — Além disso, deixe Malka fora dos assuntos das Terras do Reino, ele não está aqui e, se estivesse, também odiaria saber sobre o que fizemos com Nafsi. — Tama estava irritada. Odiava quando Nala, ou qualquer outro dos filhotes colocava o nome de Malka nas conversas com ela. — Me diga uma única vez que Nafsi fez algum mal para nós. — Nala não responde nada. — Exatamente, Nala! Ela nunca tentou nos prejudicar. Pelo contrário, nós a prejudicamos sem termos nenhum motivo. — Nala abaixa a cabeça. — Sei que está de luto pela morte de Simba, todos nós estamos! Mas descontar sua raiva nos outros não ajuda a superar.

Tama se afasta de Nala e se dirige na direção que Nafsi foi.

— O-Onde está indo, Tama?! — Pergunta Nala, agora arqueando as orelhas.

— Conversar com Nafsi. — Responde a filhote, ignorando o leve choque de Nala. — E pedir desculpas por tudo que fizemos.

— E o que farei até você voltar? — Começou a seguir a amiga.

— Não sei. — Tama franze a testa e para uma última vez para olhar por cima do ombro. — Mas você é boa fazendo a cabeça dos outros, achará alguém para brincar com você.

Com isso, Tama se retirou, deixando Nala com seus pensamentos. Ao longe, Scar observava a interação das filhotes. Sabia que fizera a escolha certa ao escolher Nafsi como principal herdeira ao invés de escolher Nuka. Só de pensar no filhote de Zira, o rei torce o nariz; ele era fraco, não tinha propósito. Mas Nafsi? Nafsi tinha tudo e um pouco mais para ser rainha, só precisava de um empurrãozinho na direção certa. Scar abre um sorriso maligno.

Sim, Nafsi seria a herdeira perfeita. Ele se retira sem ser visto e começa a caminhar até o esconderijo da filhote.


[…]


— “Só está com ciúmes por não ter amigos”, blá, blá, blá. — Nafsi debocha. A filhote despistara Tama alguns minutos atrás no cemitério e agora, estava escondida num crânio de elefante. — Por que alguém quer ter amigos que só falam mal de você e te maltratam?

— Sabe, me fiz a mesma pergunta quando tinha sua idade. — Nafsi se vira, assustada. A filhote se acalmou ao ver Scar parado na frente do crânio. Por algum milagre, o leão estava desacompanhado. Talvez suas hienas estivessem de guarda? — Meu pai tinha o costume de virar meus amigos contra mim.

A filhote sai do crânio e se aproxima de Scar, que tinha se deitado e agora, a encarava. Nafsi se senta na frente de Scar, esperando o leão terminar.

— Passei a ficar longe dele e dos outros. Depois de um tempo, meus amigos tentaram se aproximar, em vão. — Completou bocejando. — Ouvi o que disse para Nala, Nafsi, e sei que o que você mais quer é ser aceita por ela e pelos outros.

Nafsi abaixa as orelhas e vira o rosto.

— Está tão na cara assim? — Estava envergonhada e Scar sabia. Apesar de querer usar isso contra a filhote, ele se controlou.

— Lamento, mas sim. — Ele respondeu, acariciando a cabeça da pequena e fazendo-a encará-lo. — Não deixe que a falta de amizade te intimide ou tome o melhor de você, Nafsi.

— Mas... é tão difícil, tio Scar. — A pequena franze a testa. — Eles nem sequer me dão uma chance. C-Como você conseguiu?

— Depois de alguns anos na sombra de meu irmão, comecei a procurar outros amigos. — Respondeu, abrindo um sorriso pequeno. — Amigos que não me traiam, que não me desamparem.

— As hienas. — Nafsi concluiu.

— Exatamente. Quer um conselho, Nafsi? — Ele indaga, notando a filhote erguer as orelhas.

— Adoraria, tio Scar. — Ela sorri levemente.

— Não se... apegue à amizades superficiais. Acabará se decepcionando. — Ele se levanta e começa a andar, parando para olhar por cima do ombro e sorrir para a filhote. — Lembre-se, Nafsi: Se quiser ser rainha, deve conquistá-los. Se não conseguir conquistá-los com bondade, conquiste-os com medo. É muito melhor ser temido do que ser amado.

Nafsi observa enquanto Scar se retira com as sobrancelhas franzidas. A filhote sentiu finalmente algo ter sentido em sua vida. Nafsi abre um sorriso pequeno.


[...]


Já era de tarde quando Scar voltou para o reino. Podia ver uma comoção entre as hienas e algumas leoas. Ia ficar com dor de cabeça, com certeza. O leão logo ouve passos se aproximando e suspira. Para a felicidade do leão, era sua rainha. Para o desânimo dele, ela não estava com uma cara boa.

— Que é, Heneia? — perguntou, revirando os olhos.

— Visitantes. Não vão partir até que falem com você. — Heneia responde seca.

— Não pode resolver? — O leão estava nervoso, mas se recusava a demonstrar. — Estou cansado demais para essas... Tolices.

— Querem falar com o rei. — Heneia franze a testa, revirando os olhos e bufando. — A rainha não atinge as expectativas deles.

Scar solta um "Tsc". — Leve-me até eles. — Heneia confirma com a cabeça e os dois seguem em direção à fronteira do reino, onde dois leões, cercados por hienas, se encontravam. O macho era marrom escuro e seus olhos, um tom de azul. Sua juba era preta e não estava completa, algo que deixou o rei intrigado. Como um jovem adulto ousa entrar em seu domínio?

A leoa foi quem chamou a atenção de Scar. Sua pelagem era marrom-claro com um degrade mais escuro nas patas e seus olhos eram vermelho-rubi. Usava um par de brincos, pelo que o rei notara e um colar de penas repousava em seu pescoço.  Ela era bonita, misteriosa, até.

Pelo que Scar notara, ambos tinham marcas de tinta roxa em seus rostos. Realeza.

— O que fazem aqui? — Scar começa, franzindo a testa. Nenhum outro reino ousaria chegar perto de suas terras, afinal, o reino estava em ruínas. — Minha esposa disse que querem falar comigo. A beleza dela não os agradou?

— Pelo contrário, Majestade, ela é encantadora, mas sua presença era requisitada principalmente. — A leoa começa. Scar não podia negar que ela tinha jeito com as palavras. — Sou a Rainha Furya, do Reino das Rochas. Filha do Rei Aeris e da Rainha Yasu. — A leoa se pronuncia. Sua voz, apesar de rouca, era forte. — Meu reino sofreu um ataque há alguns dias e perdemos alguns membros. Esperávamos que Vossas Majestades pudessem nos ajudar. Uma aliança entre nossos reinos, talvez?

Scar pensa por alguns segundos. — Que benefícios essa aliança traria?

— Não passar fome, que tal? — O acompanhante de Furya resmunga, ganhando um rosnado de Scar e Heneia. Furya manda um olhar de desaprovação para o parceiro, que limpa a garganta. — Apesar do ataque, nosso reino ainda prospera, tem comida e água em abundância. Você, suas leoas e suas... — Fez uma pausa e torceu o focinho, enjoado pela palavra. — ...Hienas podem caçar lá à vontade.

A expressão de Scar logo passa de uma raivosa para uma expressão estoica. Heneia o olha de relance. — As hienas estão com fome, Scar. As leoas e os filhotes também. — Ele a ignora e ela suspira. — Quer que suas herdeiras morram de fome?

A simples menção das herdeiras do rei fez com que as orelhas de Furya e de seu parceiro se erguessem e os dois se encaram, sorrindo discretamente um para o outro.

— Trouxemos uma oferenda também, Majestade. — Furya começa, sinalizando com a cabeça para o parceiro, que se retira e volta depois de alguns minutos com uma carcaça de gnu. — Para os filhotes do reino, é claro.


[...]


Scar havia permitido a estadia temporária de Furya e Damon. A presença dos dois, apesar de incomodá-lo, acalmou os nervos das leoas e das hienas, afinal, as carniceiras teriam o que comer por um tempo sem importunar os filhotes e as leoas não teriam que se preocupar tanto com seus pequenos.

Pela primeira vez desde o nascimento de Kidogo e Nafsi, nuvens de chuva cobriam o céu outrora estrelado. Scar estava sentado na ponta da Pedra do Rei, observando seu reino em ruínas.

— Majestade? — Era Damon. Scar, por algum motivo, não gostava muito da presença do leão. Talvez fosse o fato de Damon ser mais jovem e ter o físico mais forte ou talvez o fato de Damon não saber quando se calar. Fosse o que fosse, contanto que suas leoas e hienas fossem alimentadas, Scar não se importava.

— Precisa de algo, Rei Damon? — O tom do rei era seco. A mera presença do forasteiro o incomodava e muito. — Furya já está na caverna.

O leão marrom se aproxima. — Temos outro motivo, além da aliança, para visitar seu reino.

— Ah, e qual seria ele? — Era uma pergunta retórica. Scar não queria e não precisava saber, mas Damon não entendeu isso ou simplesmente não se importava.

— Tenho dois filhos em casa, um menino e uma menina. — Sentou-se ao lado de Scar, sorrindo levemente e olhando para o horizonte seco e morto. Quem visse de longe pensaria que os dois eram velhos amigos conversando. — O menino é o sucessor ao trono e Furya esperava encontrar uma parceira para ele em outro reino. — Ah, sim. Aí estava. Scar torce o focinho, discreto o bastante para Damon não notar.  — Ela achou algumas filhotes interessantes e queria saber se você estaria disposto a mandá-las, junto das mães, para o Reino das Rochas.

— Pensarei sobre isso. — Scar responde, sem tirar os olhos do horizonte. A resposta foi boa o bastante para Damon, afinal, ele concordou com a cabeça e se retirou.

Scar rosna. O rei já sabia o motivo de seu desgosto pelo leão: Damon era um péssimo mentiroso.


[...]


Nafsi voltara para a caverna depois da hora do almoço. Estava assistindo da Pedra do Rei enquanto Scar e Heneia acompanhavam um casal de leões para a caverna e franziu a testa, decidindo procurar Kidogo quando trombou com Chumvi e Tojo encurralando a dita filhote.

— E é bom ficar bem longe dos pássaros do Tojo! — Chumvi exclama, notando Kidogo se encolher e fungar. Seus olhos azulados, que sempre brilhavam de felicidade ao ver os filhotes, estavam aguados e seu rosto estava mostrando uma feição de medo.

Nafsi observa com atenção. Sentia algo estalar dentro de si, mas não se intrometeu na discussão de início. Queria ver até onde os dois filhotes iriam com sua estupidez.

— E-eu já disse que não foi… — Kidogo é interrompida por Tojo.

— Não ligo se foi sem querer! — O filhote mais claro grita. — Pelos reis, você e sua irmã são mesmo um empecilho. Deviam simplesmente… Sumir! — Tojo ergue a pata, pronto para acertar a filhote mais nova, mas antes que pudesse machucar Kidogo, Nafsi corre até os três e empurra Tojo para o lado com uma cabeçada.

— Tente acertar minha irmã, lhe desafio! — As garras de Nafsi estavam à mostra e o pelo de sua nuca eriçado. Chumvi se encolhe com o tom de voz de Nafsi e Tojo, que se levantava, chacoalhou o corpo. O filhote de pelo claro solta um “Mas ela…" e Nafsi o corta. — “Mas” nada! Já cansei de tolerar os abusos que você e o resto dos filhotes fazem, já cansei de ser machucada por vocês só porque pensam que são melhores que nós! — Os gritos de Nafsi chamam atenção de algumas hienas, que se aproximam para assistir. Tojo e Chumvi agora estavam com medo. Sabiam que Nafsi, como herdeira de Scar, poderia muito bem ordenar que as hienas matassem os dois e as carniceiras obedeceriam sem pestanejar. — Se tentarem machucar minha irmã ou a mim outra vez, não hesitarei em transformá-los em comida de hiena! Vamos, Kidogo.

Nafsi se aproxima da irmã e passa o braço por cima do ombro da mais nova, a guiando para a caverna de ratos. As hienas, observando as mais novas se afastarem, também se dispersam, deixando os dois filhotes sozinhos.

— O que pensam estar fazendo?! — Era Tama. A filhote creme vira o grupo de hienas se aproximando e resolveu investigar. Kula e Mchanga estavam logo atrás dela.

— Estávamos ensinando uma lição à Kidogo, até Nafsi aparecer. — Responde Chumvi, revirando os olhos e abrindo um sorriso. — Tinha que ter visto a cara de medo da Kidogo, foi impagável!

— Im-Impagável?! — Kula grita. Após desistir de procurar Nafsi, Tama voltou para o reino e falou com Kula e Mchanga sobre o tratamento injusto que os filhotes davam a Nafsi e Kidogo e ambos concordaram em pedir desculpas junto da filhote creme. — Vocês são dois idiotas mesmo, hein!

— Do que está falando, Tama? — Tojo indaga, inclinando a cabeça. — Kidogo assustou meus pássaros, foi justificado!

— Não interessa o que ela fez, o que interessa é que vocês dois, assim como a Nala, são um bando de imbecis hipócritas. — Mchanga se intromete, revirando os olhos e bufando. — Quantas vezes Nafsi ou Kidogo fizeram algo para nos machucar ou prejudicar? E quantas vezes nós fizemos algo contra elas?

Tojo e Chumvi olham para as patas. Mchanga estava certo e os dois sabiam.

— E que história é essa de Kidogo assustar seus pássaros, Tojo? — Kula, agora mais calma, indaga. — Por todos os defeitos, Kidogo nunca assustaria seus preciosos bebês de propósito.

Tojo suspira. — Nala disse que viu Kidogo encurralando e mostrando as garras para os pássaros.

Kula, Tama e Mchanga se encaram, franzindo as testas.

— E sua resposta foi encurralar e mostrar as garras para Kidogo?! — Tama se exalta. Por mais que fosse quase imperceptível, os filhotes podiam notar a veia saltada em seu pescoço. Era raro Tama se estressar a esse ponto. — Nem sequer pensaram em deixar Kidogo se explicar?! Ou, eu não sei, pensaram em perguntar para os pássaros?! Sabem o que poderia acontecer se Scar visse vocês tratando Kidogo assim? Ou, pior ainda, que os Reis proíbam isso, se Heneia visse o que vocês, não, nós fizemos com as filhas dela? As injustiças que fizemos pelo simples fato de estarmos cegos pelo nosso ódio por Scar são… são demais para contar e eu não culparia Nafsi se ela escolhesse não nos perdoar.

Os dois filhotes abaixam as orelhas.

— Essa história de importunar Nafsi e Kidogo acaba hoje. — Kula diz, batendo a pata no chão.


[...]


Já era noite. Os filhotes já estavam na caverna com suas mães e as hienas, do lado de fora. Scar se deitou ao lado de Heneia, que banhava uma Kidogo chorosa. Nafsi, que estava deitada ao lado da mãe, estava com uma expressão brava e suas garras estavam para fora. Scar, apesar de ter notado, evitou comentar, até perceber Kula, Tojo, Chumvi, Mchanga e Tama se aproximando hesitantes do rei e de sua parceira.

O leão arqueia a sobrancelha e Nafsi, que notara a aproximação dos filhotes, rosna baixo. — Que é que vocês querem agora? — A filhote resmunga.

Os filhotes trocam olhares nervosos e Scar rosna, ganhando a atenção das leoas e de Damon e Furya.

— Se não tiverem algo útil para falar, então vão deitar com suas mães. — O leão de juba negra diz ríspido. — Já aborreceram as princesas por hoje e sugiro que não as aborreçam ainda mais.

Mchanga pigarreia, se pondo na frente dos outros. — Q-queríamos pedir desculpas à Nafsi e Kidogo por nosso comportamento nos últimos meses. — Os outros filhotes concordam com a cabeça e Nafsi ergue uma das sobrancelhas. — Temos sido horríveis com as duas por nenhum motivo então, por favor, nos desculpem.

Kidogo hesita um pouco, mas logo sorri.

— A-aceitamos suas desculpas. — Ela olha para a irmã. — Certo, Nafsi?

A filhote marrom-alaranjada solta um humph. — Fale isso por você, Kidogo. Não aceitaria suas desculpas fajutas nem que estivessem pegando fogo.

— Nafsi! — Heneia repreende e Nafsi vira as costas para os outros filhotes. A rainha suspira e sorri apologética para os filhotes. — Sinto muito pelo comportamento dela, pequenos.

— Não, nós merecemos esse tratamento, tia Heneia. — Kula se aproxima, suas orelhas estavam baixas e sua face mostrava vergonha. — Temos tradado Nafsi e Kidogo pior do que insetos e Nafsi está certa em nos tratar assim.

Heneia arqueia a sobrancelha e Scar suspira.

— Os pequenos tratam nossas Princesas com... desprezo. — O leão de juba negra resmunga. — Por sorte, sou um rei clemente, não os punirei contanto que não se repita.

Os filhotes engolem em seco. Sabiam, com essas simples palavras, que Scar sabia de tudo o que faziam com Kidogo e Nafsi.

— O-obrigado pela clemência, M-Majestade. — Mchanga murmura tímido. — P-podemos fazer algo para... agradá-los essa noite?

Scar pensa um pouco e Heneia se intromete. — Não será necessário, querido. Mas obrigada pela sinceridade. — A mais velha sorri. — Tenho certeza que Nafsi vai desculpá-los com o tempo.

— Talvez em seus sonhos... — Nafsi bufa.

— Nafsi! — Heneia exclama, ganhando um encolher de ombros da filhote.

          

OLÁ TERRÁQUEOS, SAUDAÇÕES )0)

Sua alienígena favorita está de volta. Turu bom com vocês? Espero que sim -w-

Mais uma postagem concluída antes do fim do ano, ainda bem. Pra encerrar o ano com chave de outro, trago a vocês o primeiro capítulo de Reinado Sombrio. 

2022 foi um ano difícil pra todos nós e, pra mim, foi um ano de muitas perdas. Mas esse capítulo está aqui pra agradecer todos vocês que estiveram comigo através dos altos e baixos. Então, muito obrigada a todos e obrigada pela paciência que vocês tiveram comigo até agora.

Por hoje é só. Espero que tenham gostado. Um beijo da Nathy, fiquem com Kami e bye -3-